Esse é um daqueles motéis de quinta, de quinta. Atraente justamente por ser assim, praticamente imperceptível aos olhos do acaso. Os quartos são alugados por hora e a roupa de cama, amarelada. Lugar perfeito aos olhos do perito, do fugitivo, do amante. "Quartos caros para garotas especiais", ele dizia. Não para ela. Era quarta-feira, dia de promoção. Uma hora seria o suficiente, ou talvez duas, no máximo. Dependeria da sua disposição, não da dela. A cama desfeita, as roupas no chão. Foram arrancadas do corpo, rasgadas pelo calor. E ele a usou, fez como quis, agressivo, desejo inesgotável. As baratas são se importavam, muito menos ele. Ela não gostava, mas não emitia opiniões. Era o objeto, corpo presente, alma inexistente. Respirava a pressão, jogava o jogo. No final ela teria sua recompensa. Precisava encenar intimidade, enquanto a atmosfera era ojerizante, aterrorizante, sórdida. Eles não sentiram o gosto que os lábios do outro têm, apenas o calor dos corpos em atrito. Ele se levantou, vestiu suas roupas, jogou o dinheiro no chão. Saiu de lá com descaso, enquanto ela preparava-se para o próximo espetáculo.

1 Comment

  1. Unknown on 19 de janeiro de 2009 às 12:10

    Sonhava em escrever um romance sobre a revolta de alguma garota de propaganda há tempos. Tinha o fim, tinha todos os dramas da história preparados. Mas faltava o começo.

    Agora vejo que o começo é esse texto. Nunca conseguiria transmitir todo esse repúdio, pra mostrar exatamente o que é a artista(?)em cena.

    Desisto, o romance e todo o talento são seus.

     


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