Julgo a conversa um tanto prepotente. Diz-se a tal e promete sempre resolver tudo. De fato, senti um sopro de calor, que me confortou por hora, e pensei, enfim, ter conseguido finalmente ultrapassar a Era Glacial. Pena que o silêncio, milhões de vezes mais poderoso, tenha dado asas à minha imaginação. Demorei muito a me entregar e comecei a sentir um cheiro um tanto estranho. Aquele que dá no congelador da cozinha, durante o degelo. Por fim, a solução era tirar uma por uma cada coisa de dentro, lavar, secar e colocar cada uma delas novamente em seu devido lugar. E assim é fácil atravessar a madrugada e o silêncio do quarto, colocando em ordem tudo o que sobrou para, em seguida, congelar tudo novamente. Congelar para conservar, para assegurar que vão ficar todos aqui, imóveis. Não podendo me dar ao luxo de perder mais coisas, seria como deixar de existir, pois lembre-se, os limites são físicos, não espirituais. E de tudo, prefiro guardar as boas lembranças do lado de fora, para conservá-las com o seu calor nato. Conservadas em potes de vidro, na estante, cada um deles etiquetado sem prazo de validade, são imperecíveis.

1 Comment

  1. Bianca de Queiroz on 14 de agosto de 2008 às 15:14

    Que linda a minha amiga.

    Será que agora eu animo de verdade a abrir um pra mim?

     


Postar um comentário

Obrigada por comentar, :D